*Por: Luís Lapo, Diretor de Risco da Traive

É comum que todo início de ano o produtor rural reavalie oportunidades de safra para os meses seguintes. Essa dinâmica traz reflexos para toda a cadeia de fornecimento, o que, invariavelmente, torna-se um ponto de atenção na gestão das esteiras de crédito. 

O mercado brasileiro, em razão principalmente do tamanho da sua produção agropecuária, conta com algumas particularidades em relação a outros países no aspecto de crédito rural. Nos Estados Unidos, por exemplo, o crédito vem do sistema bancário, em redes muito mais regionalizadas e espalhadas por todo o território nacional. Já no Brasil, as opções de financiamento via Bancos são insuficientes, e nem todos estão interessados ou dispostos a fornecer crédito a todos os produtores. Historicamente, os recursos oriundos do sistema financeiro para financiamento da agropecuária no Brasil sempre foram insuficientes, o que proporcionou o surgimento do crédito mercantil, ou seja, as próprias indústrias e revendas de insumos agrícolas financiando a agropecuária através da venda de insumos a prazo.   

Considerando-se o crescimento constante da produção agropecuária brasileira, intensificação de tecnologias e grande aumento dos custos de produção nos últimos anos, em parte pelas consequências da pandemia, guerra na Ucrânia e nossa própria inflação, observa-se um aumento significativo na necessidade de recursos para custear a produção agropecuária em 2023. Os limites de crédito atuais oriundos do sistema financeiro ou do crédito mercantil não crescem no mesmo ritmo do aumento dos custos, principalmente por questões técnicas relacionadas à metodologia de análise de crédito e pelo apetite de risco dos emprestadores. 

Para driblar esses desafios, as indústrias e revendas de insumos agrícolas acabam assumindo o papel cada vez mais protagonista de financiadoras do produtor rural, que além de  fornecer insumos e equipamentos para recebimento a prazo também estão buscando o mercado de capitais para financiar suas vendas, com destaque especial para operações de CRA, FIDCs e FIAGROs. Mas essa é uma atividade que pode ser muito onerosa e arriscada, pois por vezes a análise e o monitoramento dos recebíveis não são realizadas de forma adequada, acarretando em perdas que podem ser desastrosas. 

Não é demais dizer que tamanha responsabilidade quando associada a um bom nível de profissionalização e entendimento de princípios de gestão de riscos, de forma a garantir a maior segurança possível na concessão de crédito, pode garantir um diferencial competitivo importante para indústrias, cooperativas e revendas de insumos agrícolas, uma vez que o crédito passa a ser um catalisador de vendas. As empresas  que estão encarando a profissionalização e digitalização de forma séria, conseguirão obter resultados e crescimento potencial maiores, mesmo sendo o ano de 2023 mais desafiador que anos anteriores, vis a vis aumentos dos custos e redução das margens de lucro de uma forma geral.  

Além disso, essa profissionalização ajuda tanto as empresas que desejam realizar operações de fusões e aquisições em 2023, quanto aquelas que desejam manter-se independentes porém sustentáveis. Isso porque, em média, 80% das vendas dessas empresas são à prazo, e em tecnologia e profissionais capacitados, não estarão aptas a analisar tão rápida e minuciosamente o risco desse crédito, absorvendo para si o perigo do prejuízo, tendo como consequência perda de valor no caso de fusões e aquisições ou colocando em risco sua própria existência no médio prazo. 

Para 2023, um dos grandes desafios de qualquer empresa que venda insumos para a agropecuária  é tornar a esteira de crédito o ponto central na estratégia de negócio, e isso vale também para cooperativas, indústrias e outros atores do agronegócio, que não necessariamente instituições financeiras, que assumem o importante papel de financiadores da produção agrícola nacional. 

O crédito passa a ser cada vez mais protagonista na estratégia dessas empresas. E quem atua em tecnologia para crédito no agro tem bastante orgulho de promover a transformação digital nessas empresas. Capacitá-las para assumirem, de fato, papel estratégico no segmento e sustentar o crescimento de forma saudável para todo o setor. 

A área de crédito já não é mais aquela área antiga que está ali pra dizer não. O que a tecnologia de gestão de risco no crédito promove é a viabilização de mais vendas, para mais gente, com um crescimento acelerado dessas empresas, expansão geográfica da rede e das vendas… Com mais segurança, mais velocidade e menos burocracia. 

LUÍS LAPO, DIRETOR DE RISCOS E OPERAÇÕES ESTRUTURADAS DA TRAIVE

Luís Eduardo Rebolo Lapo é Diretor de Riscos e Operações Estruturadas da Traive Finance. Formado em Engenharia agrícola pela Unicamp, possui mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro e gestão de riscos. Já atuou em empresas de consultoria com foco em gestão de crédito e risos com foco no agronegócio. Atuou na estruturação da área de crédito e garantias no início do Banco Original. No Santander estruturou os processos e estratégias de crédito para o setor Agro, além da gestão de todo o portfólio de empresas do varejo, operações estruturadas, câmbio e derivativos. Atuou como head de crédito na Rural Brasil (atual AgroGalaxy), estruturando áreas de crédito e recebimento, programas de seguros e operações de securitização. Desde 2020 é diretor de Riscos na Traive Finance, conciliando funções de palestrante, conselheiro de startups e professor dos programas de inovação do Senar.

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