Não é só sobre o Pix que bancos centrais (BCs) de outros países querem saber. Países como Noruega, Portugal e Trinidad e Tobago estão conversando com empresas que participam dos testes do real digital para saber sobre o assunto. Cerca de 90% dos BCs do mundo estão com projetos de moedas digitais próprias, mas a do Brasil chama a atenção por motivos como a conexão com finanças descentralizadas (DeFi).

João Paulo Aragão, executivo de tecnologia para serviços financeiros da Microsoft, disse durante o Blockchain Rio que a empresa tem sido chamada por outros países para falar sobre o real digital. A Microsoft está em um dos 9 projetos de teste da CBDC brasileiro, junto com Visa e Consensys. Enquanto isso, o Mercado Bitcoin (MB), que tem uma exchange em Portugal, conversou com o BC do país sobre o assunto. De acordo com o CEO do MB, Reinaldo Rabelo, o BC queria saber, por exemplo, porque a empresa queria participar de um projeto que poderia acabar com exchanges - o que não parece ser necessariamente o caso

No projeto em que a Microsoft participa, o teste é com uma plataforma de finanças descentralizadas (DeFi), mas regulamentada. O objetivo é permitir que PMEs brasileiras interajam com o mercado financeiro global para obter propostas de financiamentos, numa plataforma aberta. Isso poderia elevar a competitividade entre os ofertantes de crédito.

O MB está num projeto com a Fundação CPQD e a Bitrust, que é parte do grupo, para trazer um caso de uso de entrega de ativo assim que acontece o pagamento. Em inglês, é o chamado delivery versus payment (DvP), mas nesse caso, de ativos nativamente digitais, com foco em criptoativos.

Real digital em teste

Segundo Araújo, o que nascer digital e for registrado em blockchain, idealmente não precisaria no offchain. "O BC vê muito potencial nisso (registro de ativos permitidos pelos reguladores). É um ponto que está começando a discutir e está em paralelo com a CBDC e a regulação de cripto."

Para o BC, a proposta do MB complementa as propostas do Santander e da federação dos bancos, a Febraban. Ambos tratam de DvP. O primeiro inclui tokenização do direito de propriedade de veículos e imóveis. Já o segundo se refere a ligadas à arquitetura de operação do real digital. 

Um outro projeto do real digital é o da Tecban, que associa elementos de DvP e internet das coisas (IoT). O projeto inclui usar IoT para identificar quem uma compra em e-commerce foi entregue num local seguro. E então, acontece o pagamento. De acordo com Luiz Gustavo Nugnes, da área de open finance, criptativos e inovação da Tecban, a ideia é usar armários (lockers) como os que a empresa está usando em projeto com os Correios. "A pessoa compra no e-commerce e pede para a entrega acontecer num locker. Quando for aberto, o pagamento acontece", disse ele ao Blocknews. No caso dos Correios, isso facilita a entrega e pagamento em locais como favelas.

Os testes do real digital também incluem transações dual offline entre pessoas que estejam sem conexão com a internet. Esse é o projeto da Giesecke + Devrient. Lembrando do que existe hoje no mercado, poderia ser algo, por exemplo, como carregar um cartão de transporte público e usá-lo em ambiente offline. O saldo está lá e é descontado.

DeFi, DvP e operações offline

Como lembra Fabio Araújo, coordenador do projeto do real digital, isso exige uma tecnologia bastante diferente do que a de pagamentos online. Embora o foco do real digital seja em liquidação, nesse caso seria para pagamentos, no entanto, muito útil num país grande como o Brasil, com parte da população vivendo desconectado da internet - ou porque está fora dos centros urbanos ou porque não tem dinheiro para pagar pela internet.

Outros testes incluem o do protocolo DeFi AAVE , de pool de liquidez, para empréstimos e garantir dentro da regulação. O do Itaú Unibanco é sobre pagamentos internacionais, empregando método de PvP, ou seja, pagamento contra pagamento. E inclui a Colômbia, que também está interessada no Pix. Já a Vert e a Digital Asset, com o suporte da Oliver Wyman, está estudando financiamento rural baseado em ativo tokenizado programável com valor atrelado à stablecoin do real. 

Os testes começaram neste mês de setembro e devem seguir até fevereiro de 2023.

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