Por Pedro Signorelli
O ano de 2026 será curto. Não no calendário, obviamente, mas na prática. Entre a Copa do Mundo e as eleições presidenciais, teremos menos horas disponíveis, mais distrações coletivas e um país atravessado por tensões macroeconômicas e políticas. E, se isso não fosse o suficiente, um fator adicional acende um alerta silencioso nos bastidores da economia global: a formação de uma possível bolha em Inteligência Artificial.
Não é exagero falar em bolha. Hoje, grande parte da valorização das empresas de IA está dissociada da entrega real de valor. O sistema financeiro sempre se apoiou em algum tipo de lastro. Já foi o ouro; depois, garantias mais abstratas, mas ainda conectadas a fundamentos. No caso da IA, porém, vemos cifras exponenciais sendo movimentadas sem que exista, proporcionalmente, um valor tangível gerado na mesma escala. É como se estivéssemos inflando um balão com a expectativa de que ele se sustente pela "narrativa" e não pela estrutura.
O impacto da incerteza
Se essa bolha estourar, o impacto será inevitável. Não é uma discussão apenas tecnológica; é macroeconômica. A aversão ao risco cresce, os mercados oscilam e os investimentos recuam. As organizações passam a operar sob o peso de um nervosismo difuso — aquele que ninguém verbaliza, mas todos sentem. Em um ambiente assim, previsões de longo prazo perdem a nitidez, a estratégia se embaralha e a confiança se esgarça.
Agora, coloque esse cenário dentro do Brasil de 2026. Além das tensões globais, teremos um ano eleitoral — sempre um período de forte insegurança econômica — e uma Copa do Mundo, que culturalmente afeta a produtividade local. Isso significa que as empresas terão menos tempo útil, menos estabilidade institucional e mais variáveis externas fora de controle. Em outras palavras: um ambiente perfeito para que qualquer plano rígido fracasse.
OKRs como necessidade estratégica
É justamente por isso que a gestão por OKRs (Objectives and Key Results) passa a ser uma necessidade estratégica. Não porque "está na moda", mas porque 2026 é, por definição, um ano de curto prazo. A lógica tradicional de empilhar projeções longínquas, como se nada fosse mudar no caminho, simplesmente não se sustenta quando o próprio ano nasce turbulento.
A gestão tradicional, com horizontes longos e metas estáticas, cria uma espécie de "neblina" estratégica. Quanto mais distante o objetivo, maior a distorção da visão. Em um ano volátil, essa neblina vira cegueira. Já a gestão por OKRs opera de forma oposta: assume, desde o início, que mudanças vão acontecer. Em vez de tentar prever cada curva, cria musculatura para reagir rápido a elas.
Foco, cadência e adaptabilidade
Não se trata de planejar menos, mas de planejar melhor. 2026 pede foco em ciclos curtos, ajustes frequentes, priorização extrema e transparência radical. Pede coragem para abandonar planos que não fazem mais sentido e disciplina para construir um ritmo operacional capaz de absorver turbulências, em vez de colapsar com elas.
Se a bolha de IA estourar, as empresas mais adaptáveis sobreviverão. Se não estourar, o curto prazo ainda será determinante devido às peculiaridades do calendário brasileiro. De um jeito ou de outro, navegar em 2026 exigirá flexibilidade.
Essa combinação de clareza de foco, cadência de ciclos curtos e capacidade de correção rápida faz dos OKRs a ferramenta mais compatível com o mundo real que nos aguarda. Em um ano onde ninguém consegue prever nada com precisão, resta construir capacidade de leitura e resposta.
2026 será um ano curto, incerto e intenso. Mas incerteza não é sinônimo de paralisia. Para quem souber operar com foco e adaptabilidade, esse também pode ser um ano de avanço. Não por causa da estabilidade (que não virá), mas pela competência de ajustar a rota rapidamente sempre que o cenário exigir. E ele vai exigir.
Sobre o autor: Pedro Signorelli é um dos maiores especialistas do Brasil em gestão, com ênfase em OKRs. Já movimentou mais de R$ 2 bilhões em seus projetos e é responsável, entre outros, pelo case da Nextel — a maior e mais rápida implementação da ferramenta nas Américas.
Mais informações acesse: www.gestaopragmatica.com.br


