Para especialista, não se sabe até onde vai a tecnologia nas próximas décadas. Mas uma coisa é fato: não dá para fechar os olhos para ela, principalmente para garantir sobrevivência no futuro
A tecnologia deu saltos inimagináveis na última década. Alguém conseguiria supor que um dia um robô humanoide seria capaz de desempenhar o papel de uma enfermeira para cuidar de idosos em asilos e hospitais? Ou de que um sistema seria capaz de processar a linguagem natural, uma habilidade tão humana, e responder perguntas complexas de forma criativa? O pesquisador americano Ben Goertzel, criador da Grace – a “futura” cuidadora – e que vem ganhando notoriedade em pesquisas sobre Inteligência Artificial (IA) e detentor do termo Inteligência Artificial Generativa (IAG), ressaltou que 80% dos empregos serão substituídos pelas máquinas e que faltam apenas alguns anos para isso acontecer.
Um dos avanços na tecnologia que tem sido um divisor de águas – e um grande desafio para as empresas – é o ChatGPT, inteligência artificial desenvolvida no ano passado que é capaz de responder perguntas complexas de forma criativa. De acordo com uma pesquisa da McKinsey, em apenas dois meses, o sistema superou mais de 100 milhões de usuários e 13 milhões de visitantes diários. É o crescimento mais expressivo para a história da internet de uma ferramenta acessível para o público de forma geral.
Com avanços notórios como esse, a pergunta que o mundo tem feito é: até onde a tecnologia pode chegar e quais são as habilidades que sobreviverão e quais serão superadas pelas ferramentas de IA? Para Thais Pegoraro, sócia da EXEC, empresa especializada na seleção e desenvolvimento de lideranças, afirma que a união da tecnologia com as habilidades que possibilitam os seres humanos trabalharem em grupos serão as principais demandas das empresas nos próximos anos. “Ninguém imaginava o que temos hoje em termos de tecnologia, como robôs em forma de sistemas, ChatGPT, machine learning, entre outros – a lista é imensa. Hoje é difícil acreditar em algo que a IA não consiga fazer, por isso que o foco será voltado para a realização de tarefas complexas, o que vai demandar uma interação entre vários tipos de habilidades”.
Para Thais, o segredo está em extrair e aproveitar o melhor que a IA pode oferecer para os profissionais, aliando características como perseverança, precisão, persuasão, proatividade, perspectiva, paixão, entre outras. “As habilidades são necessárias devido às interações entre tecnologia e humanos, que estão cada vez mais complexas, assim como a necessidade de ter um melhor entendimento sobre negócios, comunicação, entre tantos aspectos importantes que fazem parte da realidade de uma empresa e seus colaboradores”.
Inteligência Artificial Generativa na agenda da liderança
A adoção da Inteligência Artificial, segundo dados do State of IA da McKinsey, se mantinha estável nas empresas – sendo adotada por cerca de 50% delas. Porém, com o impacto cada vez maior em diversas atividades, essa participação deve ganhar proporções ainda maiores, algo que está sendo impulsionado por soluções como o ChatGPT. Em contrapartida, coloca o mundo corporativo diante do desafio de contornar os riscos éticos e práticos envolvidos na utilização desse tipo de IA.
Com isso, a Inteligência Artificial Generativa ganhou um espaço relevante na agenda da liderança e de quem está à frente das decisões. Sobre esse tema, a McKinsey fez um levantamento que identificou que a aplicação da IAG em diversos setores pode movimentar de US$ 2,6 trilhões a US$ 4,4 trilhões na economia mundial anualmente – um valor que representa praticamente o PIB do Reino Unido de 2021, que foi de US$ 3 trilhões. Mais de 70% desse valor deve ser gerado pela atividade de áreas como marketing, vendas, P&D, clientes e engenharia de software.
Thais afirma que a IAG vai trazer diversos benefícios para os profissionais, o que vai impactar diretamente na produção e operação das organizações. “Quem não iniciar essa jornada terá dificuldades de se destacar entre a concorrência. Por isso, cada líder deve trabalhar com sua equipe reflexões sobre como começar esse novo caminho, quais são as oportunidades de transformação e as capacitações técnicas necessárias para colocar tudo isso em prática”.
Como trazer essa realidade para dentro da empresa e extrair valor?
Thais ressalta que o mercado de trabalho sofrerá mudanças significativas com a IAG e os profissionais devem estar preparados para se adaptarem às transformações de suas atividades. “A transformação digital não envolve apenas a tecnologia, mas sim uma mudança cultural e de mindset. Profissionais e empresas que não estiverem abertos, correm risco de perderem a competitividade e ficarem para trás.
A especialista separou algumas dicas que vão ajudar os profissionais e companhias a lidarem com a IA. Confira a seguir.
Busque conhecimento. Cultive o hábito de aprender continuamente, com a mente aberta, com foco em crescimento, é essencial na era da IA. Sem conhecimento, o risco de usar as ferramentas de forma inadequada é grande, além de perder espaço no mercado de trabalho para profissionais mais bem preparados para essa nova realidade.
“Não é preciso ser expert no tema, mas é importante entender a linguagem da tecnologia, além dos termos e conceitos básicos”. Para isso, uma boa dica é participar de treinamentos e cursos que ajudem a desenvolver suas habilidades digitais, algo importante para se manter atualizado sobre as últimas tendências em sistemas. Conferir essas informações em blogs, fóruns, entre outras fontes, também ajuda nessa jornada.
Explore as novas tecnologias. Não tenha medo de adotar novas ferramentas ou soluções de IA em seu dia a dia e em seus projetos. “Ao explorar novas tecnologias é possível encontrar novas soluções para aprimorar seus processos e trazer mais eficiência para a sua produtividade.
Crie projetos internos com essas ferramentas. Thais diz que iniciativas internas podem servir de modelo para mostrar como a IA pode impactar de forma positiva a operação das empresas. De acordo com uma das pesquisas da McKinsey, a IAG pode impactar entre 60% e 70% do tempo dos profissionais, gerando reflexos diretos na rotina das empresas.
Estabeleça princípios éticos e diretrizes para uso da IA. Grande parte das organizações não mitiga boa parte dos riscos associados à IA tradicional. A IAG deve aumentar ainda mais essa preocupação, investindo em estruturas para resolvê-los ou evitá-los. “As lideranças precisam estabelecer princípios éticos e diretrizes gerais para o uso da IAG, mas também necessitam fornecer um entendimento sobre os potenciais riscos por seu uso. Além disso, precisam estar preparadas para se manterem constantemente atualizadas sobre os avanços na regulamentação”, diz a especialista.
Invista em parcerias. Ninguém avança sozinho, principalmente no que diz respeito à implementação de novas tecnologias. Por isso, apostar na formação de um ecossistema de parcerias é fundamental para inserir a IAG em todos os níveis da empresa e ter um time de especialistas para atuar com mais rapidez. “Os profissionais da atualidade estão aptos a se desenvolverem rapidamente e implementarem novas soluções em inteligência artificial generativa”, afirma Thais.
A era da inteligência artificial generativa está ainda dando seus primeiros passos. Porém, uma coisa é fato: não dá para fechar os olhos para ela. “Fechar-se ou paralisar-se diante desses novos cenários, com o pensamento de que ‘isso não afeta a minha vida’ não aumenta a sua massa crítica. Estar aberto às formas inteligentes de uso de modalidades como o ChatGPT, se inteirar sobre o que se trata, sobre suas aplicações, discussões sobre o tema, entre outros, passa a ser fundamental para que se tenha discernimento quanto ao uso e impactos em na vida, no time e na família”, conclui.