Desenvolvido pela Unifesp, tratamento medicamentoso é pioneiro na tentativa de impedir a reprodução do vírus causador da AIDS. A pesquisa, porém, precisa ser realizada em novos grupos de pacientes
Mesmo que novas doenças tenham surgido e a Ciência tenha se desenvolvido muito nos últimos anos, o vírus HIV segue sendo um desafio para médicos e cientistas em todo o mundo.
Os primeiros casos de AIDS foram registrados nos Estados Unidos e no Haiti. No Brasil, o primeiro relato ocorreu em 1980. Somente dois anos depois, a doença foi reconhecida como nova enfermidade no mundo.
Embora a doença ainda não tenha cura, em julho, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) anunciou um tratamento médico especializado, que pode ser capaz de eliminar esse vírus do organismo.
Histórico de tratamento
Até hoje, a Ciência registrou apenas três casos de cura erradicativa dessa doença no mundo. Este processo ocorre quando os pacientes soropositivos conseguem se livrar do vírus e não ter novos registros de reprodução dele no organismo.
Nos três casos, sendo que dois ocorreram na Alemanha e um na Inglaterra, a reprodução do vírus foi interrompida após a realização de um transplante de medulas ósseas de doadores que não produziam uma proteína presente no sangue para que o HIV pudesse se reproduzir.
O pioneirismo do Brasil consiste em criar um tratamento somente medicamentoso, que não prevê a necessidade de transplante de medula. O paciente que recebeu o recurso terapêutico no país tem 35 anos e foi diagnosticado com o vírus em 2012. Após ingerir a combinação de medicamentos, esse homem está há 17 meses sem o HIV em seu corpo.
Há alguns anos, a equipe da Unifesp, coordenada pelo infectologista Ricardo Sobhie Diaz, trabalha em dois diferentes métodos para o tratamento, e a eventual cura, do vírus HIV. Além da fase medicamentosa, que bloqueia a replicação do vírus, a equipe estuda uma vacina para estimular o sistema imunológico a combater o micro-organismo.
Realização do estudo
A pesquisa desenvolvida pela Unifesp recrutou 30 pacientes soropositivos, sendo que todos deveriam estar recebendo previamente tratamento com coquetel antirretroviral, cujos medicamentos deviam estar funcionando há, pelo menos, 2 anos.
Esses pacientes foram divididos em seis grupos de cinco pessoas. Além desse tratamento padrão, cada grupo recebeu uma combinação diferente de medicamentos.
Durante 48 semanas, um desses grupos recebeu alguns antirretrovirais a mais do que os outros, como Maraviroc e Dolutegravir. Além de incentivar o sistema de defesa do organismo, essas drogas fazem com que o vírus HIV saia do estado de latência e “apareça” no organismo.
Esse processo permite que os anticorpos combatam o vírus HIV. Nesse grupo, um paciente marcou o sucesso da pesquisa, pois parou de receber quaisquer tratamentos contra o HIV e está há 17 meses sem o vírus no organismo.
Após esse período, os pesquisadores registraram um forte declínio na quantidade de anticorpos detectados, o que é outro indicativo do desaparecimento do micro-organismo.
Etapas seguintes
Apesar dos resultados animadores, Diaz afirma que não é possível assegurar que o paciente esteja curado, sendo preciso observar os efeitos dos medicamentos utilizados em novos grupos de pacientes.
Além de o estudo precisar ser testado em laboratórios independentes, fora da instituição onde a equipe trabalha, os pesquisadores necessitam verificar o que ocorreu com os outros pacientes que receberam a mesma combinação de vírus que o paciente que apresentou bons resultados ao tratamento.
Após a divulgação do tratamento na 23ª Conferência Internacional de AIDS, que ocorreu entre 6 e 10 de julho, especialistas da área advertiram que o fato de tal resultado ter sido visto em um único paciente não permite afirmar que o procedimento garanta a remissão do vírus de forma geral.
Pesquisa de universidade brasileira apresenta possível novo tratamento para HIV
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