Se no cardápio do restaurante tivesse um aviso do tipo: “a captura desse pescado preserva a vida de tartarugas, baleias e golfinhos” você compraria com mais tranquilidade? Especialistas em mercado e pesquisadores ambientais acreditam que informar o cliente sobre o que envolve cada pesca poderia ser uma saída para reduzir o impacto ambiental. “O pescador está fazendo um trabalho, é a forma de sustento que ele aprendeu com a família (…) e se a pessoa que compra não tem consciência do que está fazendo, ela vai continuar estimulando um hábito predatório”, defende Henrique Becker, coordenador técnico do Projeto Tamar, de Ubatuba, litoral norte de São Paulo. A dificuldade é como escolher.

Em muitos países, já existem guias que indicam aos consumidores a compra responsável. A partir de dados de pesquisa, o documento sinaliza o status do pescado como conservação da espécie, se existe plano de gestão da pesca ou se impacta animais ameaçadas. Selos certificados em diferentes cores apontam as melhores opções. Verde é a mais indicada. Amarelo, apresenta ressalvas. E vermelho, a evitar.

  Algumas cidades brasileiras já produziram alguns guias locais. Agora, a proposta é criar uma plataforma de informação nacional. “Se ele (cliente) começar a recusar os pescados que estão ameaçados, que têm algum problema de sustentabilidade ou mesmo bycatch (captura acidental), a gente pode mudar o cenário da produção”, diz a consultora Cintia Miyaji, diretora executiva da Consultoria Paiche que prepara o guia em conjunto com instituições internacionais. A previsão é que algumas indicações já estejam disponíveis para o público no início de 2019, antes da Páscoa, período de maior consumo. “Mas tem muita pescaria que depende de coleta de dados para a gente ter um indicador que seja confiável, então a gente está trabalhando toda a cadeia de trás para frente e espera ter no final de 2019 umas 10 espécies de maior volume de comercialização no Brasil já com status de recomendação pronto”, completa Miyaji.

Mar inesgotável? – Nunca se comeu tanto pescado no mundo. Em 1961, eram 9 quilos por pessoa, em média. Em 2016, 20,3 quilos. A informação é do relatório Estado Mundial da Pesca e Aquicultura 2018 (SOFIA, sigla em inglês). O mundo produz hoje 171 milhões de toneladas (parte produção, outra parte captura). E pelas projeções, o consumo vai aumentar mais. Só na América Latina, a expectativa é de crescimento de 33% no consumo de pescado até 2030, de acordo com dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura).

  O pescado é uma commodity importante de países em desenvolvimento: mais que banana, açúcar ou café. São US$ 39 trilhões em transações financeiras de exportações por ano. Estima-se que 800 milhões de pessoas trabalhem direta ou indiretamente com a atividade pesqueira. Diante desses números, o consumidor pode parecer sem força. Mas tem. Uma campanha da WWF (World Wild Fund), ong internacional, ilustrou a relação de dependência entre pescadores até cliente final. Ou seja, sem o consumidor, a conta não fecha.

Comemos tubarão – Quem compra tem responsabilidade. E conhecimento é um ingrediente imprescindível para saber que nem todo peixe deve ir para a mesa. Há aqueles que devem ser consumidos com cautela e os que precisam ser evitados como os tubarões. “Todas as espécies de tubarão são comercializadas com o nome de cação”, afirma Priscila Dolphine, do Instituto de pesca de Santos, no litoral sul paulista, “mas quando se mata o predador de topo como tubarões há uma reação em cadeia que provoca o desequilíbrio no ambiente marinho e nas outras populações de peixes, o que a longo e curto prazos, acaba prejudicando as espécies que consumimos”. Pelas estimativas dos cientistas, 40% do que as redes capturam não era o objetivo inicial. Mas na prática o que cai na rede é peixe e como não se costuma perguntar sobre a origem do produto… o consumidor pode estar comendo tubarão, raia, golfinho, tartaruga!

Fonte: Pesca SP Gov

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