Por Pedro Signorelli
No mercado jurídico, cada vez mais competitivo, a eficiência na gestão deixou de ser um diferencial e se tornou uma necessidade. Contudo, outras questões internas desviam o foco do que realmente importa: a geração de valor estratégico e o crescimento sustentável do escritório por meio do alinhamento dos sócios.
É nesse ponto, em que a alta performance encontra divergência de prioridades, que reside o principal desafio da liderança: garantir que a visão individual de cada sócio se some, e não se anule, no objetivo maior do negócio.
E é aqui que entra o poder dos OKRs, já que o modelo tradicional de gestão pelo tempo está com os dias contados. Grandes departamentos jurídicos, especialmente em empresas globais e de tecnologia, já começaram a pressionar seus parceiros por algo mais estratégico: previsibilidade, eficiência e valor percebido. E é aí que as ferramentas orientadas a resultados, como o modelo de gestão por objetivos, entram como uma verdadeira revolução silenciosa. Elas invertem a lógica: o foco sai do tempo gasto para o impacto gerado.
Ao adotar metas baseadas em entregas tangíveis – ou seja, OKRs bem desenhados – os escritórios passam a trabalhar com objetivos claros e mensuráveis:
- Reduzir o tempo médio de resolução de processos.
- Aumentar a taxa de sucesso em litígios complexos.
- Melhorar a experiência do cliente jurídico.
- Elevar a produtividade do time sem aumentar o número de horas faturadas.
São indicadores que capturam eficiência, qualidade e valor, não apenas presença e esforço.
Essa mudança de foco exige coragem. Significa abandonar a zona de conforto do “quanto tempo levei” e entrar no território do “que diferença fiz”. Ela desafia a rotina controlada pelo relógio e convida o gestor jurídico a se tornar um estrategista.
O advogado deixa de ser o executor de tarefas e passa a ser um solucionador de problemas, com clareza sobre o impacto real do seu trabalho nos objetivos do cliente e do negócio. Isso muda tudo: a forma de planejar, de liderar e de reconhecer o mérito dentro do escritório.
Mais do que uma ferramenta, os OKRs representam uma nova mentalidade sobre o que é produtividade estratégica. Não é sobre estar ocupado, é sobre estar relevante. Quando um time jurídico consegue provar, com dados, que sua atuação reduz riscos, acelera negócios e melhora a percepção do cliente, o discurso sobre valor deixa de ser abstrato. Ele se torna tangível e comparável.
O movimento ganha ainda mais força em um contexto de transformação digital. Ferramentas de automação e inteligência artificial estão eliminando grande parte do trabalho repetitivo, que antes preenchia as horas faturáveis. As tarefas de análise de contratos, revisão de documentos e pesquisa jurisprudencial estão sendo otimizadas por sistemas que fazem em minutos o que levava dias.
Diante disso, insistir no time-sheet é como usar um cronômetro para medir a criatividade. Nesse cenário, importa mais o valor entregue. Não que se deva abandoná-lo, mas talvez ele precise ganhar um novo olhar.
A produtividade estratégica do futuro jurídico será definida por outro tipo de métrica: aquela que conecta o resultado jurídico ao impacto de negócio. O advogado que entender essa lógica deixará de ser um centro de custo e passará a ser um **centro de valor**. E o escritório que conseguir mensurar e comunicar essa entrega sairá na frente, não apenas por eficiência, mas por visão.
Sobre o Autor
Pedro Signorelli é um dos maiores especialistas do Brasil em gestão, com ênfase em OKRs. Já movimentou com seus projetos mais de R$ 2 bilhões e é responsável, dentre outros, pelo case da Nextel, maior e mais rápida implementação da ferramenta nas Américas.


