Uma crônica envolvente sobre amigos misteriosos que guiam e transformam, numa jornada de reflexões profundas e conexões além do imaginável.
Era uma noite morna, daquelas que parecem abraçar a pele com um sopro úmido e silencioso. Eu estava deitado no quintal da casa onde cresci, o mesmo chão de terra batida que testemunhou minhas primeiras quedas e risadas, na década de 80, quando o rádio tocava Legião Urbana e o cheiro de café coado ainda pairava no ar. O céu acima de mim era um manto negro cravejado de estrelas, como se alguém tivesse jogado purpurina sobre o infinito. Meu peito subia e descia devagar, carregado de perguntas que eu nem sabia formular. Foi então que senti: um arrepio que não explicava, um peso leve, quase como se o universo tivesse piscado para mim.
Ele surgiu do nada, ou talvez sempre estivesse ali, esperando que eu o notasse. Caveira. Não sei dizer se era alto ou baixo, jovem ou velho — sua presença era mais do que um corpo poderia conter. Seus olhos, se é que posso chamá-los assim, brilhavam com uma intensidade que atravessava a alma, como lanternas num nevoeiro denso. Havia nele um cheiro sutil de madeira queimada, misturado com algo metálico, talvez ferro, talvez sangue de batalhas antigas. “Não tema,” sua voz ecoou, grave e firme, como o som de um tambor ancestral batendo em algum lugar além do tempo. “Estou aqui para guiá-lo, mas o caminho é seu para percorrer.” Cada palavra parecia uma pedra lançada num lago calmo, criando ondas que eu ainda sinto enquanto escrevo.
Eu não sabia o que responder. Fiquei ali, encarando-o, tentando entender o que aquilo significava. O vento soprou leve, carregando o som distante de um riacho que corria perto da casa — um ruído que me remetia às fitas cassete que eu ouvia nos anos 90, gravadas com músicas que falavam de liberdade e revolução. Caveira permaneceu em silêncio, mas sua presença era um convite. Não para fugir, mas para olhar para dentro. Pensei nas escolhas que tinha feito até ali, nos erros que carregava como cicatrizes e nas vitórias que, às vezes, esquecia de celebrar. Ele parecia saber de tudo isso, como se lesse os capítulos da minha vida que eu ainda não tinha coragem de abrir.
Então, num piscar de olhos, o ar mudou. Uma risada cortou a tensão, leve e afiada como o som de um sino quebrado. Era Caverinha. Ele surgiu dançando entre as sombras, com a energia de quem acabou de escapar de uma travessura. Se Caveira era o peso da sabedoria, Caverinha era a brisa que alivia o calor de um dia longo. “Por que tanta seriedade, meu amigo?” disse ele, com um sorriso que parecia iluminar o quintal. “A vida precisa de equilíbrio. Não esqueça de sorrir, mesmo nas situações mais desafiadoras.” E ali estava ele, girando como uma criança dos anos 2000 brincando com um ioiô, mas com olhos que carregavam segredos mais velhos que as montanhas.
Com o tempo, outros vieram. Uma figura silenciosa, com mãos calejadas que pareciam ter construído impérios e derrubado muralhas, me ensinou sobre persistência sem dizer uma palavra. Outra, com um olhar suave como o amanhecer, sussurrou sobre a força da vulnerabilidade enquanto o perfume de jasmim pairava ao seu redor. Cada um trazia algo — uma lição, uma imagem, um som. Havia o eco de tambores tribais, o zumbido de máquinas futuristas, o murmúrio de orações antigas e até o chiado de um videogame dos anos 80, como se todas as eras e culturas dançassem juntas numa sinfonia que eu estava apenas começando a ouvir.
Eu os encontrava em momentos inesperados. Num café lotado, enquanto o vapor subia da xícara e as conversas ao redor falavam de metas e prazos, sentia Caveira ao meu lado, me lembrando que o tempo é uma ilusão que criamos para nos organizar. Numa tarde chuvosa, quando o som das gotas na janela parecia hipnotizar, Caverinha aparecia, sugerindo que eu dançasse na tempestade em vez de apenas observá-la. Eles não resolviam meus problemas, mas me mostravam que as respostas já estavam em mim, esperando para serem desenterradas como tesouros num porão empoeirado.
Pensei nas histórias que ouvia na infância, sobre guerreiros que enfrentavam dragões, ou nas lendas que minha avó contava, de espíritos que guiavam os perdidos. Pensei nos filmes de ficção científica dos anos 90, com naves cruzando galáxias, e nos livros de filosofia que li na faculdade, questionando o que é real. Tudo parecia se misturar ali, naquele quintal, sob aquele céu. Eram amigos de outro mundo, sim, mas de um mundo que eu carregava dentro de mim — um lugar feito de memórias, sonhos e possibilidades que eu nem sabia que existiam.
Houve uma noite em que sentei para escrever sobre eles. O lápis deslizava no papel, o som da grafite contra a folha me remetia às aulas de redação da escola, quando sonhava em ser alguém. Enquanto as palavras tomavam forma, senti todos eles ao meu redor. Caveira, com sua postura imponente, parecia aprovar cada linha com um aceno sutil. Caverinha ria baixo, como se soubesse que eu nunca capturaria tudo o que eles eram. Os outros estavam lá também, sombras e luzes dançando na penumbra do quarto. E então entendi: eles não eram apenas guias. Eram pedaços de mim, reflexos de quem eu fui, sou e ainda posso ser.
Hoje, enquanto termino estas linhas, olho para o céu novamente. As estrelas continuam lá, piscando como velhas amigas. E eu sei que, em algum lugar além do que posso ver, eles estão comigo. Não para me salvar, mas para me lembrar que a salvação está nas minhas mãos — na coragem de enfrentar o escuro, na leveza de rir do caos, na força de seguir em frente. Se algum dia você sentir um arrepio estranho, uma presença que não explica, não corra. Pode ser o começo de algo maior, uma amizade que atravessa mundos e muda tudo.
Eu, Alessandro Turci, deixo aqui este pedaço de mim. Olhar para dentro é o maior ato de bravura, uma dança entre o que fomos e o que podemos nos tornar, nas esferas da vida que cruzam o pessoal, o profissional, o humano. Que o peso das suas próprias estrelas o guie, que a leveza dos seus risos o sustente, que a sabedoria dos seus silêncios o transforme. Que você encontre sucesso, saúde, proteção e paz na sua própria história. Afinal, o universo não é só lá fora — ele pulsa aqui dentro, e às vezes, fala com a voz de amigos que nunca vimos, mas sempre conhecemos.
Sucesso, Saúde, Proteção e Paz!
Alessandro Turci
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