*Luiz Felipe Bazzo, CEO do transferbank

A moeda americana está refletindo o resultado da inflação menor que a esperada, com queda acima de 1%. A continuidade dessa tendência de baixa vai depender de fatores externos, como o rumo dos juros nos Estados Unidos, e internos, como o cenário fiscal. Nos EUA, a expectativa é que o ciclo de alta de juros esteja chegando ao fim, mesmo com a possibilidade de o país entrar em recessão, ainda que leve.

A queda também evidencia que a perspectiva de juros ainda altos no Brasil está atraindo exportadores para o mercado doméstico de renda fixa, o que reduz a diferença entre a balança comercial embarcada e suas liquidações financeiras em relação às anteriores. O tom mais duro adotado pelo BC em suas últimas comunicações também favorece a atração de dólares e valoriza a moeda local e, considerando o Brasil com juros ainda alto, sem dúvida, temos pela frente um carry trade

Mas vale lembrar que a desvalorização do dólar não ocorre apenas ante o real, mas também contra outras divisas emergentes, como o peso mexicano e o peso colombiano. O mercado hoje tem uma preocupação de que a economia americana deve entrar em recessão, mesmo que leve, e isso contribui para a desvalorização do dólar no mundo. 

No Brasil, um ambiente com menor ruído interno e perspectiva mais positiva para o cenário fiscal tende a ajudar a valorizar o real a ficar em melhores patamares de preços. No cenário global, com as altas nos juros nos EUA chegando ao fim e o diferencial de juros favorável, o patamar abaixo de R$ 5 pode ser sustentável. Sobretudo, precisamos ver o arcabouço finalizado e aprovado para solidificar e eventualmente até buscar patamares mais valorizados. Isso porque as incertezas quanto à coordenação das políticas fiscal e monetária continuam pesando sobre os fluxos cambiais, o que me leva a continuar esperando uma desvalorização do real ao longo do ano.

Além de um possível ajuste de posições dos ativos um dia antes da divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos, o investidor deve se manter atento aos comentários dos integrantes do Federal Reserve (Fed).

O resultado abaixo do esperado do IPCA de março também anima o mercado de juros e permite uma retomada das posições aplicadas em juros ao longo da curva, especialmente nos vértices onde a sensibilidade à política monetária é maior.

O último IPCA trouxe uma mensagem positiva generalizada, apesar de, na minha análise, não mudar a visão de que o BC iniciará o ciclo de flexibilização monetária nesse terceiro trimestre. Os núcleos e os serviços apresentaram bons resultados recentemente, mas ainda estão bem acima da meta de inflação. Ressalto que, na minha avaliação, a inflação deve encerrar o ano em 6,2% e chegar ao fim de 2024 em 5%, em um cenário em que a meta de inflação é elevada para 4,5% a partir de 2024. Além disso, é provável que a autoridade monetária buscará a convergência da inflação para a meta até 2025.

A queda forte do dólar hoje, mesmo mantendo próximo do nível simbólico de R$ 5, também influencia na pressão sobre as taxas futuras, ao mesmo tempo em que, no exterior, a sessão desta terça-feira também é marcada por uma queda nos rendimentos dos Treasuries.

*Luiz Felipe Bazzo é CEO do transferbank, uma das 15 maiores corretoras de câmbio do Brasil. O executivo também já trabalhou em multinacionais como Volvo Group e BHS. Além disso, criou startups de diferentes iniciativas e mercados tendo atuado no Founder Institute, incubadora de empresas americanas com sede no Vale do Silício. O executivo morou e estudou na Noruega e México e formou-se em administração de empresas pela FAE Centro Universitário, de Curitiba (PR), e pós-graduado em finanças empresariais pela Universidade Positivo.

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