Quando a pandemia chegou ao Brasil, em março de 2020, a mineira Onfly, uma plataforma onde empresas podem comprar passagens aéreas e outros serviços de viagens para seus funcionários, foi uma das várias companhias – principalmente de turismo – que flertaram com a falência.

Com o País parado e os aeroportos vazios, a startup viu o volume de transações cair de R$ 1,7 milhão em fevereiro para apenas R$ 14 mil no mês seguinte. Sem receita, teve de demitir 18 dos 22 profissionais. Por pouco, não fechou as portas. “Pensei nisso pelo menos umas dez vezes”, lembra o CEO e cofundador da Onfly, Marcelo Linhares, em entrevista ao NeoFeed.

De julho em diante, a situação começou a melhorar aos poucos, à medida que o número de casos da primeira onda foi diminuindo e alguns setores foram voltando a viajar. Naquele mês, as transações subiram para R$ 100 mil e, em fevereiro de 2021, já estavam em R$ 1 milhão.

“Empresas de setores como agronegócio, engenharia e saúde contribuíram para a retomada”, afirma o executivo. Antes da pandemia, 90% dos clientes eram de tecnologia. “Se não fosse pelos setores tradicionais, teríamos morrido.”

Ainda que a pandemia não tenha acabado, a Onfly já está até melhor do que antes da crise. As transações, que devem fechar o ano em R$ 40 milhões, são três vezes maiores e a equipe já tem o dobro de pessoas, com 46 funcionários e perspectiva de contratar mais 14.

De pé novamente, a Onfly agora mira outras estradas. Além das passagens aéreas, hospedagem e locação de veículos, a startup se prepara para incluir viagens de ônibus em sua plataforma, para atender à demanda de empresas que precisam mandar funcionários para cidades distantes de aeroportos.

“Era um pedido que vinha principalmente de clientes da área de engenharia civil e construção, que às vezes têm de mandar pessoas para visitar obras em lugares mais afastados”, conta o executivo.

O serviço deve entrar na plataforma em até duas semanas. A expectativa da Onfly é gerar R$ 500 mil em transações por mês com ônibus até o fim do ano. Com isso, o negócio chegaria a representar de 3% a 4% do volume feito pela startup.

A oferta será viabilizada por meio de uma parceria com a Quero Passagem, um site de venda de passagens de ônibus que estará plugado à plataforma da Onfly. “Isso reforça a nossa estratégia de ser ‘one stop shopping’, para que o cliente faça tudo em nossa plataforma”, diz o CEO. “Antes, o cliente fazia passagens aéreas, hotel e aluguel de carro conosco e o ônibus por fora. Agora, teremos um ambiente onde ele não sai”.

A Onfly se apresenta como uma espécie de “Decolar.com” das viagens corporativas. A ideia de Linhares é “roubar” a demanda das empresas que usam a plataforma da Decolar.com e de similares. “A Decolar.com faz de R$ 7 bilhões a R$ 9 bilhões por ano (dados de 2018) em transações, sendo que boa parte é corporativo. É essa fatia que queremos capturar”, diz o executivo, que pretende chegar a 2025 com R$ 1 bilhão em transações.

Segundo ele, para atrair esse cliente, a Onfly pretende oferecer um ambiente preparado para atender empresas, uma vez que sites como Decolar.com, Submarino Viagens, 123Milhas e MaxMilhas são focadas em viagens de lazer. “Eles não conseguem ter uma plataforma que convida o colaborador da empresa a participar e nem operar de acordo com políticas de viagens específicas das companhias”, compara.

No seu modelo de negócio, a startup cobra uma mensalidade das empresas que contratam os serviços, que varia de R$ 149 a R$ 999. Ao todo, há 185 clientes. Entre eles, estão a Autoglass, de vidros automotivos, a Direcional Engenharia, e a Armac, de locação de máquinas.

Uma vez assinante da plataforma, a empresa tem acesso a um sistema de gerenciamento das viagens, com o controle de todos os gastos que foram feitos, de forma centralizada. Uma das vantagens é poder incluir as políticas de viagens das empresas na plataforma, para que as compras respeitem as regras. Por exemplo, se um determinado funcionário só pode comprar passagens com 15 dias de antecedências, isso estará ativado.

Além disso, se o cliente tem um acordo com uma determinada rede hoteleira, a plataforma consegue mostrar se há opções de diárias mais baratas em outros locais. Segundo Linhares, só com hotéis, uma grande empresa pode economizar de 6% a 7% por mês. Para uma companhia menor, a economia pode ser de 18% a 20%. Para os serviços como um todo, a economia prometida é de até 30%.

A Onfly também fatura na outra ponta, ao receber, daqueles que ofertam os serviços, uma taxa em cima de cada venda. No caso da parceria com a Quero Passagem, por exemplo, a Onfly terá 8% de cada operação.

Fundada em 2018, a startup se inspira em empresas como a americana TripActions e a europeia TravelPerk. No Brasil, a PayTrack também atua nesse mercado. Há, ainda, a tradicional Flytour, uma das maiores no setor corporativo e que está sendo negociada no mercado por conta da crise gerada pela pandemia.

Além da expansão para o mercado de ônibus, a Onfly também está prestes a lançar um cartão corporativo, para facilitar o reembolso para os funcionários. Hoje, a plataforma já viabiliza a devolução do dinheiro de forma digital, mas vai oferecer cartões às empresas para tornar a experiência mais fluida.

Os cartões serão físicos ou virtuais, emitidos pela Visa, e serão entregues aos clientes sem ter o nome de um titular, para que fiquem à disposição e possam ser reutilizados. O saldo, se sobrar depois de uma viagem feita por um funcionário, poderá ser reaproveitado em outra ocasião ou devolvido para o caixa do cliente.

Segundo Linhares, já há 30 clientes na fila de espera para usar a solução beta. Para se ter uma ideia do potencial, só no ano passado, a plataforma da Onfly registrou R$ 12 milhões em reembolsos. “Queremos eliminar o reembolso e tirar essa ineficiência”, diz. A solução deve estar disponível para as empresas em outubro.

Com os novos produtos, a Onfly espera chegar ao ano que vem com um volume de transações quatro vezes maior, em torno de R$ 160 milhões. É também em 2022 que a startup espera voltar a conversar com fundos de investimentos. Até o momento, o único aporte recebido foi de R$ 2 milhões, anunciado em janeiro e feito pela Cedro Capital, uma gestora de Brasília.

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