Ilustração em estilo anime mostra Alessandro Turci refletindo sob um céu estrelado com constelações de dragão e caranguejo, simbolizando autoconhecimento, nostalgia e a jornada interior. Arte inspiradora para crônicas sobre identidade e propósito.
Mergulhe na crônica envolvente de Alessandro Turci, onde memórias, reflexões e autoconhecimento dançam entre décadas, sonhos e verdades universais.
O ar estava pesado naquela tarde de julho, o tipo de calor que faz o asfalto tremer e o mundo parecer um espelho derretido. Eu caminhava pela rua de paralelepípedos tortos, os pés hesitantes, como se o chão pudesse me engolir. Havia um cheiro de terra molhada, apesar do sol escaldante, e o som distante de uma rádio FM tocando algo que lembrava os anos 90 – talvez uma balada grunge ou um eco de Cazuza, não sei ao certo. Meus olhos, sempre tão inquietos, encontraram uma figueira antiga, suas raízes rompendo a calçada como dedos de um gigante adormecido. Sentei-me à sua sombra, o tronco áspero contra as costas, e deixei o tempo escorrer. Foi ali, naquele instante suspenso, que senti o peso de quem eu era – ou de quem eu achava que era.
A vida, às vezes, é como um rio que corre sem pedir permissão. Você acha que está no controle, navegando com um remo firme, mas de repente a correnteza te arrasta para um lugar que não estava no mapa. Eu era um menino dos anos 80, daqueles que cresciam entre fitas cassete, gibis amarelados e o chiado das TVs de tubo. As tardes eram cheias de promessas – um jogo de futebol na rua, o cheiro de pão quente na padaria, o som de um walkman que engasgava nas músicas do Legião Urbana. Mas havia algo mais, algo que eu não sabia nomear: uma inquietação, como se o mundo fosse grande demais e eu, pequeno demais para preenchê-lo.
Anos depois, já nos anos 2000, troquei as fitas cassete por playlists digitais e os gibis por planilhas de Excel. O menino que sonhava com naves espaciais e heróis agora vestia terno, apertava mãos em reuniões e falava sobre metas e KPIs. Mas a figueira, ou pelo menos sua memória, ainda estava lá, sussurrando. Em um desses dias, enquanto encarava a tela de um computador que parecia mais vivo do que eu, percebi que o rio da vida havia me levado para longe – não do mundo, mas de mim mesmo.
Sentei-me, não mais sob uma árvore, mas em uma cadeira giratória, e comecei a escrever. Não era um relatório, nem uma apresentação. Era algo vivo, algo que pulsava. Escrevi sobre o menino que corria atrás de pipas, sobre o jovem que dançava em festas dos anos 90 com o coração aberto, sobre o homem que agora tentava decifrar o que restava de ambos. Cada palavra era como uma pá cavando a terra, desenterrando memórias, medos, sonhos. E então, percebi: a jornada não era sobre chegar a algum lugar, mas sobre reconhecer o caminho.
Havia um homem que conheci certa vez, um mentor, embora ele nunca se chamasse assim. Ele tinha olhos que pareciam enxergar além das palavras, como se pudesse ler os silêncios. “Você já parou para ouvir o que não diz?”, ele perguntou, enquanto tomávamos café em uma xícara lascada. Aquela frase ficou comigo, como uma semente plantada em solo fértil. Comecei a prestar atenção nos meus lapsos, nas palavras que escapavam sem querer, nos sonhos que me visitavam à noite. Havia um padrão, uma dança invisível entre o que eu mostrava ao mundo e o que guardava no peito.
Os anos 90 me ensinaram a sonhar com o futuro – as séries de sci-fi, os primeiros computadores, a ideia de que o mundo estava prestes a se tornar algo novo. Mas também me ensinaram a olhar para trás, para as histórias contadas pelos mais velhos, para as crenças que vinham de tempos imemoriais. Minha avó, com suas mãos calejadas, falava de santos e espíritos como se fossem vizinhos. “Tudo está conectado”, ela dizia, enquanto trançava meu cabelo. Naquele tempo, eu ria. Hoje, vejo que ela estava certa.
A vida moderna, com seus algoritmos e telas, nos faz esquecer disso. Corremos atrás de prazos, curtidas, validações. Mas, às vezes, no silêncio de uma madrugada, sinto ele – o dragão. Não o monstro das histórias, mas a força que carrego desde 1976, o ano em que nasci, sob o signo do dragão e a sensibilidade do caranguejo. É uma chama que não explica, apenas queima. É o que me faz parar, olhar para dentro, perguntar: “Quem sou eu, além do que o mundo espera?”.
Certa noite, sonhei que caminhava por uma floresta digital, onde as árvores eram feitas de pixels e o vento carregava vozes de todas as décadas que vivi. Havia o eco de um walkman, o som de um modem discado, o sussurro de uma oração antiga. No centro da floresta, encontrei uma versão de mim mesmo, mais jovem, com os olhos cheios de perguntas. “Você encontrou?”, ele perguntou. Não respondi. Apenas sorri, porque percebi que a resposta não era um destino, mas o próprio caminhar.
Escrever esta crônica é como tecer um tapete com fios de memórias, reflexões e silêncios. Cada linha é um convite para olhar para dentro, para ouvir o que não dizemos, para abraçar o que nos torna humanos. Pensei nos líderes que conheci, nos coaches que me guiaram, nos livros de filosofia que li à meia-luz, nas conversas com amigos que se tornaram espelhos. Todos, de alguma forma, me ensinaram que a maior liderança é aquela que exercemos sobre nós mesmos.
Hoje, enquanto o sol se põe e o céu se tinge de laranja, sinto que o menino dos anos 80, o jovem dos 90 e o homem de agora são um só. Eles coexistem, dançam, conversam. E a figueira? Ela ainda está lá, em algum canto da minha alma, suas raízes me lembrando que crescer é, acima de tudo, enraizar-se em quem somos.
Eu, Alessandro Turci, deixo aqui este pedaço de mim. Um convite para que você, onde quer que esteja, pare por um instante e ouça o seu próprio rio. Que ele te leve não a um destino, mas a uma verdade mais profunda, onde o caranguejo encontra o dragão, e ambos sorriem. Que você encontre sucesso, saúde, proteção e paz na sua própria história.
E, no silêncio que resta, ouça: o mundo é vasto, mas o maior universo está dentro de você.
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