A Argon-7 descobre os Lirianos em Lirathis, unindo luto e aliança em uma jornada de coragem e conexão além da Federação.
O Encouraçado Argon-7 pairava em sua órbita ajustada, ainda sentindo os ecos do adeus estelar a Jonas. A tripulação carregava o peso daquele luto, mas o universo, como sempre, não lhes dava tempo para pausas prolongadas. Na ponte de comando, o Capitão T permanecia sentado em sua poltrona, os olhos fixos no horizonte cósmico projetado no holograma à sua frente. Aspire-5 brilhava abaixo, suas auroras violetas dançando como véus sobre oceanos luminescentes, mas a atenção do Capitão T estava agora voltada para algo além daquele planeta turístico da Federação dos Planetas Unidos de Órion. Um sinal pulsava nos monitores, uma sequência rítmica que parecia viva, desafiando as análises iniciais. Starsha estava ao seu lado, os cabelos loiros caindo sobre os ombros de seu uniforme funcional, os olhos heterocromáticos — azul e verde — refletindo a luz dos painéis.
A voz de Ancestral ecoou pela ponte, firme e precisa, enquanto coordenava os sistemas da nave.
— O sinal mantém um padrão sincrônico com nossa órbita, Capitão T. Não corresponde a nenhuma frequência conhecida da Federação. Origem estimada: um sistema a um ano-luz de Aspire-5, coordenadas precisas detectadas.
Kaizen, ajustando os óculos com um gesto rápido, inclinou-se sobre sua estação de trabalho, os dedos dançando sobre os controles holográficos.
— Não é um eco local, Capitão T. Há camadas de dados embutidas — é intencional. Parece... um convite.
— Um convite? — perguntou o Capitão T, franzindo o cenho. Sua voz carregava o tom rouco do luto recente, mas a curiosidade começava a reacender algo em seu peito.
Sprit, com seus braços delicados manipulando os sensores da nave, virou-se para ele, os olhos azulados brilhando com uma mistura de eficiência e incerteza.
— Os dados preliminares sugerem uma mensagem codificada, Capitão T. Estou decifrando agora. Pode levar alguns minutos.
O Capitão T assentiu, cruzando os braços enquanto olhava para Starsha. Ela inclinou a cabeça, um sorriso sutil curvando seus lábios.
— Um convite inesperado pode ser um presente, Capitão T. Ou uma armadilha. Jonas diria para olharmos com os dois olhos abertos.
Ele deixou escapar um suspiro, o nome de Jonas ainda um golpe suave contra seu coração. Mas ela estava certa. Jonas sempre fora cauteloso, mas nunca temera o desconhecido. O Capitão T endireitou-se na poltrona.
— Sprit, acelere a decodificação. Kaizen, prepare uma análise do sistema de origem. Quero saber o que está a um ano-luz daqui antes de usarmos a Dobra.
Minutos depois, a voz de Sprit cortou o silêncio tenso da ponte.
— Decodificação completa, Capitão T. É uma mensagem. Vou projetá-la.
Um holograma tremeluziu à frente da tripulação, exibindo símbolos alienígenas que se dissolveram em palavras legíveis na língua padrão da Federação. A mensagem era curta, mas carregada de intenção.
"Saudações, viajantes da SHD. Somos os Lirianos, habitantes de Lirathis, a um ano-luz de sua posição. Convidamos sua tripulação a nos alcançar e nos conhecer. Queremos revelar nosso mundo e nossa história, na esperança de forjar laços com sua Federação. Venham em paz."
O Capitão T leu as palavras em silêncio, o peso delas se misturando ao vazio que Jonas deixara. Kaizen foi o primeiro a quebrar o silêncio.
— Lirianos? Nenhum registro na Federação. Um ano-luz é uma distância pequena, mas fora das rotas mapeadas. Eles devem estar isolados.
— Ou deliberadamente escondidos — sugeriu Starsha, sua voz nostálgica carregando uma nota de fascínio. — Um povo que escolheu o silêncio até agora, talvez?
O Capitão T tamborilou os dedos no braço da poltrona, o olhar perdido por um instante no holograma.
— Sabem que somos da SHD. Isso significa que nos detectaram de longe. Ancestral, alguma atividade que indique ameaça?
A voz incorpórea de Ancestral respondeu, ecoando pela ponte.
— Nenhuma assinatura de armas ou tecnologia hostil detectada, Capitão T. O sinal emana de um planeta com sinais vitais estáveis, mas sua localização sugere exclusão das rotas conhecidas da Federação.
— Então eles querem ser encontrados agora — murmurou o Capitão T. — Por quê?
Kaizen ergueu os olhos de seus cálculos, os óculos refletindo a luz do holograma.
— Talvez tenham captado nossa presença em Aspire-5, Capitão T. Somos exploradores, não turistas. Isso pode ser uma oportunidade para eles.
Sprit inclinou-se, os olhos luminosos fixos no Capitão T.
— Ou um pedido de ajuda disfarçado. Devo preparar a Dobra para Lirathis?
O Capitão T hesitou, os ecos do luto por Jonas misturando-se à chama da curiosidade que sempre o guiara. Ele olhou para Starsha, buscando nos olhos dela a certeza que às vezes lhe escapava. Ela pousou uma mão em seu ombro, o calor atravessando o uniforme.
— Vamos descobrir juntos, Capitão T. Um novo começo pode nascer de onde menos esperamos.
Ele assentiu, a decisão tomada.
— Sprit, prepare a Dobra. Kaizen, quero um relatório preliminar do sistema de Lirathis assim que chegarmos. Starsha, você e eu lideraremos o primeiro contato. Vamos ver quem são esses Lirianos.
A Argon-7 ativou sua tecnologia de Dobra, o espaço ao redor da nave se contorcendo em um borrão de luz e escuridão. Em instantes, o salto de um ano-luz foi concluído, e a tripulação emergiu diante de Lirathis — um planeta de tons esmeralda e índigo, envolto por anéis finos de poeira estelar. Sua superfície exibia continentes cobertos por florestas pulsantes e mares que brilhavam como vidro líquido sob a luz de uma estrela jovem. Quando a nave estabilizou sua órbita, o Capitão T liderou a equipe de desembarque, Starsha ao seu lado, Kaizen e Sprit logo atrás, carregando equipamentos de análise.
O ar de Lirathis era denso, com um perfume doce que lembrava flores queimadas. À frente, uma estrutura emergiu da vegetação — um domo orgânico, tecido com fibras luminescentes que pareciam respirar. Figuras altas e esguias começaram a se materializar, suas peles iridescentes refletindo a luz dos anéis. Eram os Lirianos. Um deles, o líder, deu um passo à frente, os olhos grandes e luminosos fixos no Capitão T.
— Bem-vindos, viajantes da SHD. Eu sou Kaelith, voz dos Lirianos. Vivemos em Lirathis desde tempos imemoriais, afastados das rotas de sua Federação. Mas agora desejamos nos revelar.
O Capitão T inclinou a cabeça, mantendo a postura firme.
— Capitão T, da Argon-7. Por que nos chamar agora? O que mudou?
Kaelith gesticulou para o céu, onde os anéis brilhavam como um colar estelar.
— Vocês cruzaram o vazio até Aspire-5, e sentimos sua chegada. Não os visitantes comuns, mas uma tripulação que carrega força e perda. Queremos mostrar nosso mundo e pedir sua ajuda para nos unir à sua Federação.
Starsha aproximou-se, os olhos heterocromáticos analisando Kaelith.
— Vocês nos detectaram a um ano-luz? Como?
Kaelith sorriu, revelando dentes delicados como pérolas.
— Nossa floresta vive. Suas raízes captam vibrações através do éter, ecos de quem passa perto. Sentimos o luto de vocês e a coragem que veio depois.
Kaizen, ajustando os óculos, não conteve sua excitação.
— Uma rede biológica interestelar! Isso explica o sinal, Capitão T. É uma descoberta sem precedentes.
O Capitão T trocou um olhar com Starsha, sentindo o peso daquele momento. A perda de Jonas ainda doía, mas ali, em Lirathis, havia uma chance de construir algo novo.
— Kaelith, aceitamos seu convite. Mostre-nos seu mundo. Vamos decidir juntos o próximo passo.
A visita começou com os Lirianos guiando a tripulação pelo domo, revelando uma civilização que misturava tecnologia viva e tradições antigas. Árvores de casca metálica pulsavam como corações, conectadas por rios de energia subterrâneos. Kaelith contou como seu povo prosperara em isolamento, desenvolvendo uma simbiose com Lirathis que os tornava invisíveis às sondas da Federação. Eles buscavam proteção e troca: seu conhecimento sobre redes biológicas em troca de um lugar entre as estrelas.
Horas depois, de volta à Argon-7, o Capitão T reuniu a tripulação na ponte. Starsha estava ao seu lado, sua mão roçando a dele em um gesto sutil.
— Eles nos deram uma escolha — disse ele. — Apoiar sua entrada na Federação ou deixá-los na sombra. O que acham?
Kaizen sorriu, os olhos brilhando com possibilidades.
— É uma chance de aprender, Capitão T. E de expandir o que a SHD representa.
Sprit assentiu, sua voz suave carregando uma nova confiança.
— Eles nos viram como somos. Talvez possamos ajudá-los a encontrar seu lugar.
Starsha olhou para o Capitão T, os olhos verdes e azuis cheios de apoio.
— Um passo à frente, Capitão T. Como Jonas sempre quis: construir pontes entre as estrelas.
Ele respirou fundo, sentindo o vazio de Jonas se transformar em algo maior.
— Então está decidido. Vamos apoiá-los. Ancestral, envie uma mensagem à Federação. Diga que encontramos aliados em Lirathis.
A voz de Ancestral respondeu, ecoando com uma nota de aprovação.
— Mensagem preparada, Capitão T. Enviando agora.
A Argon-7 permaneceu em órbita, um farol de conexão entre o conhecido e o novoa de Lirathis pulsava ao redor da nave, carregando o luto e a esperança de sua tripulação. O Capitão T olhou para o planeta abaixo, pensando em Jonas e nas lições que ele deixara. Starsha apertou sua mão, e ele murmurou:
— Às vezes, o que perdemos abre portas para o que encontramos.
Ela assentiu, a voz suave como uma promessa.
— E cada encontro nos torna mais do que éramos.
Que cada passo revele um universo dentro de você, pensou o Capitão T, enquanto a nave zumbia ao seu redor. E que aliança o espera na próxima fronteira?
Reflexão sobre o Conto
Este conto explora o tema das alianças inesperadas e como elas podem surgir em momentos de vulnerabilidade. A chegada dos Lirianos, um povo isolado que se revela após detectar a presença da Argon-7, reflete a ideia de que a dor pode abrir caminhos para novas conexões. O Capitão T, ainda lidando com a perda de Jonas, encontra nos Lirianos uma oportunidade de honrar o legado de seu pai adotivo ao construir algo maior. Starsha, com sua empatia, Kaizen, com sua curiosidade, e Sprit, com sua busca por propósito, mostram como cada um contribui para transformar um encontro em uma ponte para o futuro.
A lição aqui é que as alianças mais valiosas muitas vezes nascem da autenticidade — os Lirianos foram atraídos pela humanidade da tripulação, não por sua força militar.
Para o leitor, o conto sugere que abrir-se ao desconhecido, mesmo em meio à dor, pode levar a crescimento e significado. Como você pode transformar um momento de fragilidade em uma chance de conexão?
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