Com mais de 100 mil desligamentos ao redor do mundo, setor passa por momento de mudanças estruturais; empresas buscam equilíbrio diante de perdas no valor de mercado
Entre o fim de 2022 e o início deste ano, as empresas do setor de tecnologia demitiram mais de 100 mil colaboradores ao redor do mundo e mais da metade deste número vieram das “big techs”, empresas que dominam o setor. Este mesmo grupo, que inclui Apple, Microsoft, Meta (dona do Facebook, WhatsApp e Instagram), e Alphabet (Google) perderam quase U$4 trilhões em valor de mercado ao longo do ano de 2022, de acordo com a consultoria TradeMap.
Alguns motivos podem estar relacionados às demissões em massa que ocorrem atualmente, como a insegurança na economia global, o aumento da inflação nos Estados Unidos, onde a maioria das demissões aconteceram, mas principalmente o alto número de contratações feitas durante a pandemia, que muitas vezes não se fazem mais necessárias.
“A pandemia fez com que a aceleração digital de empresas de pequeno, médio e grande porte fossem potencializadas de maneira ainda mais significativa, o que resultou em mais contratações naquele momento. Com o retorno de um cenário parecido com o que vivíamos antes do início da COVID-19, essas empresas tiveram de fazer cortes para equilibrar a equação de funcionários”, explica João Gabriel, head de tecnologia e Top Voice do LinkedIn.
Movimento pode impactar setor no Brasil?
Na mão contrária desta tendência, o Brasil deve chegar em 2025 com um déficit de quase 800 mil profissionais no setor tech, o que evidencia a necessidade da formação de novos especialistas para preencher a lacuna existente no país.
Mesmo com a alta demanda de profissionais, as demissões recentes no setor devem impactar o mercado brasileiro de tecnologia. Com mais profissionais no mercado, as vagas devem se tornar mais concorridas entre os novos profissionais e aqueles que buscam recolocação profissional.
“Este movimento de demissões deve sim impactar as empresas do país nos próximos meses. Naturalmente, com mais candidatos, a concorrência nas vagas será maior, e os profissionais que possuem experiência levam ligeira vantagem em relação aos candidatos que estão tentando a primeira oportunidade no mercado de tecnologia”, conta João.
Realocação no mercado de trabalho
Buscar um novo emprego pode ser difícil, muitas pessoas passam longos meses entre a saída de um trabalho e o recomeço da vida profissional. Mesmo com o mercado aquecido, o setor tech pode apresentar situações em que o profissional passe algum tempo sem uma nova chance e tenha que maximizar suas oportunidades de conseguir uma vaga, por meio de estratégias que o façam ser notado.
“Atualizar o currículo e LinkedIn são itens obrigatórios para quem está em busca de uma vaga de emprego hoje em dia, e isso vale para qualquer área, mas pensando principalmente no mercado de tecnologia, ter conexões que possam auxiliar em alguma oportunidade, por meio de conselhos e indicação é essencial”, relata o especialista.
Um movimento muito comum dos últimos anos tem sido a busca de outros países por profissionais brasileiros. De acordo com uma pesquisa da Husky, plataforma que facilita o recebimento de transferências internacionais, o número de profissionais que vivem no Brasil mas trabalham no exterior saltou 491% entre 2020 e 2022, e a tecnologia da informação é o setor com mais procura.
“Os profissionais de tecnologia são muito visados pelo mercado atualmente, então mesmo com as demissões no exterior e por aqui, eles devem conseguir se recolocar rapidamente para outras posições, pois a maioria possui experiência e conhecimento para atuar em empresas de pequeno, médio e grande porte”, finaliza o head de tecnologia.
Sobre O Matuto Programador
Top Voice do Linkedin, João Gabriel é head de tecnologia na Ideen. Formado em Sistemas da Informação pela Fundação Santo André e em Big Data - Inteligência na gestão de dados pela escola Politécnica da USP, possui mais de 14 anos de experiência na área. Atualmente é seguido por mais de 90 mil pessoas no Linkedin, além de conduzir o podcast 404 no Youtube e ser fundador da Compass Tech, empresa de recrutamento de tecnologia.